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Os desafios dos advogados iniciantes.

Caros leitores, hoje quero refletir um pouco sobre os primeiros desafios que são impostos a todos os que querem percorrer o maravilhoso caminho dessa tão apaixonante profissão, que é a Advocacia.

Inicialmente, falo sobre os nossos primeiros momentos rumo à tão sonhada carteira de advogado.

De modo geral, ficamos extremamente apreensivos com o temido Exame de Ordem. Alguns de nós fomos reprovados mais de uma vez, até que o sonho fosse alcançado (e não há qualquer problema nisso, visto que perder uma batalha é muito diferente que perder a guerra; e a estes eu digo: venceram a guerra!).

Enquanto estamos nesse período de estudo frenético rumo à aquisição de nossa “habilitação”, não temos muito tempo para pensar nos desafios que virão à frente. E é sobre eles que quero falar, e falar abertamente. Afinal, é depois da almejada entrada no rol dos advogados, na classe jurídica por excelência, no quadro de membros da Ordem dos Advogados, é depois disso que os desafios realmente começam. Mas não apenas quero falar sobre isso, mas também sobre os prêmios que virão quando esses desafios forem superados.

Antes de mais nada, gostaria de ressaltar que estes problemas (embora eu prefira mesmo o termo “desafios”) são enfrentados por TODOS os profissionais da advocacia, e que existem MUITAS histórias de sucesso nessa caminhada. Portanto, meus queridos, de pronto questiono: se alguém já conseguiu, por que nós não conseguiríamos?

Ao conversar, de forma franca, com outros colegas, pude perceber que, via de regra, os causídicos em início de carreira enfrentam desafios bastante semelhantes.

Em primeiro lugar cito o mercado de trabalho.

Uma das dificuldades partilhadas pelos novatos é conseguir uma inserção no mercado. Isto porque dois fatores pesam quando algum escritório busca por determinado profissional: os escritórios já constituídos querem pessoas com experiência e, como critério de “desempate”, pessoas pós graduadas. Claro, é um tanto quanto ilógico exigir experiência de alguém que até agora esteve “enfurnado” nos cursinhos para aprovação na OAB e em leitura de sinopses jurídicas! Obvio, ainda mais ilógico que se exija uma especialização, pois ainda nem deu tempo para isso!

Quando você encontra um escritório disposto a contratar novos advogados, estará diante de um dilema: aceitar ou não o salário e a remuneração que estão sendo oferecidos? Isso em razão de que, de modo geral, os salários iniciais para a advocacia não são tão atraentes, ao menos no ramo privado. Verdade é que se você encontrar uma proposta para receber mais de mil reais mensais (nos dias atuais, em que o salário mínimo é quase setecentos reais), isso já é uma raridade. Também é verdade que muitos escritórios já constituídos querem que o iniciante participe dos “riscos” da profissão. Assim, os iniciantes apenas ganhariam uma certa porcentagem dos ganhos do escritório, e apenas se houver êxito na causa.

Quanto a isso até entendo que a advocacia seja um profissão de riscos, assim como toda profissão liberal.  Logo, entendo quando os escritórios queiram pagar apenas se ganharem alguma coisa.

A aceitação dessas propostas por parte do iniciante é bastante relativa, mas o que deve ser considerado aqui é qual porcentagem é realmente JUSTA? Pois passar três anos acompanhando um processo para receber apenas 10% sobre os ganhos do escritório não me parece nada justo. Imagino que os advogados mais antigos devam pensar “Eu passei por isso, eles também devem passar”, e, por mim, tudo bem, mas por favor, sejamos justos!

Toda iniciativa profissional precisa de uma séria analise anterior de custos e investimentos. Se você ficar muito tempo advogando em determinado escritório, sem uma proposta real de sociedade, sem uma participação justa nos ganhos das causas ou sem um ótimo plano de carreira, vai perceber que está apenas enriquecendo outro advogado, que é o dono do escritório.

Mas ainda assim é possível continuar na situação atual, que não é tão boa (e dá para se virar), e adquirir o máximo de experiência possível, para, assim que possível, passar à sua própria empreitada, rumo à fixação do seu espaço no mercado da advocacia.

Como eu disse, análise de investimentos: você precisará de um certo suporte material para desempenhar a advocacia com alguma “dignidade”. Entre os investimentos estão: um bom computador, com acesso à internet; livros de teoria e prática jurídica; o local físico para instalar seu Q.G., que pode ser comprado ou alugado; o mobiliário, no mínimo, da sua sala, da sala de espera e da sala de atendimento; provavelmente, um veículo para se locomover; entre outros.

Também existem os gastos fixos, que devem ser colocados no papel: aluguel de sala e pagamentos de condomínios, se houver; pagamentos de contas, de energia, água, internet, etc.; salários dos empregados (estagiários, secretária, faxineira, outros); material de escritório, como papeis, tinta da impressora e afins.; cursos necessários ao aperfeiçoamento profissional, que não são baratos; gastos com combustível e manutenção do carro (pneus, revisões, etc.), e, quando não, com táxi ou outro meio de locomoção (embora seja desgastante tomar um ônibus rumo ao fórum com vinte quilos de processos nas mãos!).

Assim que abrir seu escritório, vai precisar que as pessoas, seus potenciais clientes, cheguem até você. Mas tem um detalhe: você está impedido de fazer propagandas. É isso mesmo, nem pense naquele “panfleto” que você pretendia pagar alguém para distribuir no semáforo.

Mas, então, como conseguir clientes? Essa é uma questão delicada. Mas em uma realidade que te impõe pré-requisitos fortes para investimentos e ainda impõe gastos fixos bem elevados, impõe também uma séria rigidez na forma de divulgação do seu trabalho! Isso quer dizer que você terá ainda que dar a sorte de alguém vir contratá-lo? Não exatamente, pois existem formas de driblar essa realidade, e prometo que falarei disso no próximo artigo.

Sabe quando dizem que o Leão (a Receita Federal) não abre mão da parte que lhe cabe, não importando qual a situação do contribuinte? A OAB é mais ou menos assim também. Ela impõe a você o pagamento de uma nada doce anuidade! São, em média, 800 reais por ano que você terá de desembolsar para ostentar por aí sua carteirinha cor de rosa.

Enfim, caros colegas, confesso que são muitos os desafios impostos a nós. Não é fácil iniciar na advocacia. Muitos de nós saem correndo para outros caminhos porque jamais imaginaram que o título que eles lutaram tanto para alcançar os retribuiria de forma tão pesada, mais como um julgo que como um privilégio. Mas eu quero propor uma nova visão, uma visão que vai além dessa montanha que nos está proposta.

Temos também que pensar nas recompensas que virão depois de tanto emprenho.

Uma delas é que depois de alguns anos já começamos a ver os frutos econômicos de nosso desgastante trabalho. Sabe aquelas muitas horas que você trabalhou mais por amor à profissão e ao direito do que por qualquer outro motivo? Sim, elas também serão recompensadas financeiramente.

Muito provavelmente depois de cerca de três anos você já começará a colher esses frutos. Para alguns um pouco antes, para outros um pouco depois, mas é uma lei infalível: as ações em que você atuou virão como uma avalanche de decisões favoráveis, que englobam, muitas vezes, honorários contratuais (participação nos ganhos do cliente) e honorários sucumbenciais. Falando em números, creio que, em média, uma ação judicial gera um ganho de cerca de 3 a 4 mil reais para o advogado. Com um novo cliente por semana (UM!), você terá 48 novos clientes no ano e, com isso, um potencial de ganho de cerca de 150 mil reais pelo trabalho realizado naquele ano. Isso dá cerca de 12 mil reais por mês. Novamente alerto para a realidade de um país cujo salário mínimo, gozado pela maioria da população, é de 680 reais. Me parece bom, e a você?

Mas não é só isso. Você já esteve diante de um cliente para comunicar o sucesso em uma ação? Se já, sabe do que estou falando. Se ainda não, você perceberá que nos olhos de uma pessoa que colocou toda sua esperança de vida, de questões altamente relevantes e vitais, sendo que você praticamente "salvou a vida dessa pessoa", nos olhos dela há infindável gratidão. E pode ter certeza, você passará a ser o advogado dela, de sua família, de seus amigos e todos os que ela conseguir convencer, pois será um testemunho vivo do seu empenho como advogado.

Tem mais: você participou de um bem de valor inestimável à sociedade: a justiça. Foi através de seu empenho e dedicação, das horas passadas em frente à tela do notebook, atrás dos livros de doutrina, imerso em pesquisas jurisprudenciais, enfim, através disso que uma injustiça foi corrigida ou impedida. E isso é simplesmente maravilhoso.

Mas quer saber o melhor? Você conseguiu! Você venceu! O Direito venceu! O trabalho de aplicar à realidade material um desejo que é, no mínimo, fantasioso, como é a vida almejada nas linhas das leis, esse trabalho é simplesmente indescritível no que tange à satisfação. Buscar argumentação jurídica a um caso que parecia perdido e alcançar a vitória é um sabor que apenas os persistentes provarão.

Finalizo, nobres colegas, informando que eu sei... eu sei que muitos irão desistir. Muitos não resistirão à pressão. Eles correrão para outros caminhos, ou porque esperavam soluções milagrosas da advocacia para suas vidas financeiras ou porque não entenderam o real sentido da profissão. Mas também sei... também sei que muitos levantarão de novo, dia após dia, batalhando como sobreviventes nessa selva jurídica que se diz “civilizada”, mas onde impera a lei dos mais fortes, e, aqui, o mais forte é o mais resistente! E sei que os que resistirem às lutas, aos desafios, e persistirem na caminhada, alimentado o sonho de uma forte reputação na advocacia, esses lograrão êxito, e os benefícios financeiros (que serão muitos) serão apenas secundários em toda a história de vida dessa fantástica pessoa.



Nesse contexto, só posso questionar: em qual grupo você estará? Tomara que entre aqueles que buscam ardentemente a vitória.

A todos nós, sucesso!

7 comentários:

  1. MUITO BOM!!! PARABENS!!

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  2. Olá ! Parabéns pelo artigo. Finalmente puder ler algo motivador para o início da carreira. Avante, com fé e paciência.

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  3. fé e luta, sem eles não conseguiremos! abraço dr's

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  4. Excelente argumentação e muito motivadora, nunca deixem que pessoas destruam os seus sonhos, tenha comprometimento, foco, persistência e acima de tudo, peça a Deus, Nossa Senhora Aparecida e Virgo Pótens, a proteção, para que possa continuar e ter o sucesso merecido! Vamos em frente!

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  5. Maravilhoso ler isso nessa manhã, estou super preocupada com a minha primeira audiencia hoje. Peço a Deus que me abençoe e eu tenha exito. Que a justiça impere, sempre.

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  6. Gostei muito, gostaria que me enviasse o segundo artigo, pois estou fazendo um ano que peguei minha carteira rosinha e, estou advogando só, toda via, surgem muitas duvidas no acompanhamentos de processos, e em saber os procedimentos corretos de cada tipo de processo, o que você me indicaria? como livro de pratica.

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    1. Prezado Paulo, certamente eu indicaria que você buscasse o aconselhamento de outros colegas que já atuam na área. Nós temos um grupo de auxílio mútuo entre advogados, no Facebook. Caso você tenha interesse em conhecer, à direita do Blogue você encontra um "link" de acesso. Abraço!

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